Paul Brunton em sua busca no Egito secreto
Este é um livro extraordinário, e seu título original, A Search in Secret Egypt (Uma busca no Egito secreto), é particularmente apropriado. Os capítulos contêm muitas buscas, entre as ruínas, entre as cidades, em textos antigos e até mesmo na mente do próprio autor. O livro também revela vários segredos notáveis, explica alguns, refuta outros e deixa ainda alguns envoltos em seu próprio mistério. Acima de tudo, este livro se passa no Egito; a narrativa de Brunton é um espelho da própria identidade egípcia em camadas complexas, a narrativa de um homem cuja sensibilidade sem igual lhe permitiu conhecer o próprio passado distante do Egito e fazer perguntas a seus cidadãos modernos.
Assim como o título, que é enganosamente simples, mas em última análise preciso, a narrativa parece ser de fácil leitura, tocando de leve as muitas faces e eras do Egito; no entanto, com um pouco mais de atenção, seus segredos começam a emergir. Este livro é uma jornada interior de iniciação, uma autodescoberta do primeiro grande segredo da humanidade: nosso lar não e o corpo, mas a alma. Esse segredo pode ser experimentado por nós mesmos, experiência que inevitavelmente nos levará à busca de nosso próprio lar espiritual, revelando muitos segredos antes de chegarmos ao seu fim. O despertar do eu espiritual é o verdadeiro segredo deste livro, segredo este que o próprio autor experimenta no decorrer de suas investigações.
Embora estejamos habituados a acreditar que o corpo é o nosso centro e que a mente está contida nele, os eventos, as entrevistas e as percepções do autor afirmam o contrário: somos criaturas do espírito, da mente, e o corpo é o nosso veículo, não a nossa verdade. Que essa reorientação era um segredo guardado há muito tempo pelos sacerdotes dos templos do antigo Egito é o que Brunton descobre ao explorar os templos, os túmulos e os registros hieroglíficos dessa era passada. Enquanto examina os mitos e os ícones dessa extraordinária época, o autor retorna repetidamente ao mito de Osíris e ao mistério que é a própria Esfinge. Osíris nos ensina que podemos abandonar o corpo e conservar a consciência, sobrepujando assim a morte; a Esfinge nos ensina que essa iniciação é o começo do Grande Mistério que apenas toca nosso eu temporal, um mistério que exige a paciente proteção da própria Esfinge, à medida que a humanidade evolui lentamente rumo à maturidade espiritual.
Para esclarecer o poder da mente e do corpo e para distinguir as várias formas de ioga e magia da verdadeira espiritualidade, Brunton procura – e encontra – uma variedade de hipnotizadores, magos, místicos e até mesmo um encantador de serpentes genuíno! Embora o leitor se surpreenda com alguns dos elementos incomuns (ou conservadores) deste livro, o próprio autor não era inteiramente apaixonado pelo ocultismo, assim como não era limitado pelo espírito acadêmico; ao mesmo tempo, não evitava a companhia deles. Sua principal intenção é nos apresentar o panorama de perspectivas que há no Egito em torno do mistério central da relação entre mente e corpo.
Li este livro pela primeira vez há cerca de quarenta anos, mas não pude realmente fazer uma segunda leitura até ter surgido a oportunidade de produzir esta nova edição. Enquanto trabalhava neste projeto, três aspectos da obra me impressionaram. O primeiro é a erudição de Brunton, que muitas pessoas não reconhecem. Ele nos apresenta os testemunhos hieroglíficos originais do Egito faraônico, citações dos registros de seus primeiros visitantes gregos, e inclui uma lista de seus subsequentes governantes. Além disso, está familiarizado com o trabalho dos egiptólogos europeus, incluindo seus contemporâneos e, embora no geral aceite o ponto de vista deles, também faz algumas correções em seus trabalhos – correções estas que foram corroboradas pela pesquisa moderna.
O segundo aspecto refere-se às extraordinárias realizações dos egípcios – sobretudo sua compreensão da relação entre mente e corpo, e sua habilidade de fornecer uma iniciação direta às verdades mais profundas da condição humana. Ainda que vários capítulos explorem temas de ocultismo, magia, hipnotismo e reflexão religiosa, Brunton volta repetidamente a seu tema principal – o mistério de Osíris e sua própria e notável experiência na Grande Pirâmide. Esse mistério é o enigma de nossa identificação primordial com o espírito, não com o corpo; agraciados com a experiência direta desse segredo, nossa busca espiritual pode começar de verdade, pois vislumbramos nossa terra natal; até então nosso trabalho é especulativo, na melhor das hipóteses, ou uma divagação sem direção, na pior. Assim, a sabedoria do antigo Egito pode nos dar as chaves do reino, se estivermos prontos para recebê-las.
O terceiro ponto diz respeito ao próprio Paul Brunton e sublinha sua ênfase na observação da antiga sabedoria do templo. Este livro não foi escrito num notebook em algum apartamento europeu com ar condicionado, e sim nos mercados da cidade, no dia a dia das mesquitas, nos templos cheios de areia e nas aldeias desertas do Nilo. Mesmo hoje, com todas as vantagens oferecidas ao turista moderno, as explorações diligentes de Brunton em templos, cidades e tumbas do Egito seriam uma tarefa difícil – sem falar da procura por magos, encantadores de serpente e místicos, cuja integridade os impedia de divulgar publicamente seus serviços. Ademais, há a coragem do autor ao entrar em câmaras subterrâneas habitadas por escorpiões, pegar cobras vivas e caminhar pela escuridão de templos assombrados – sem mencionar sua impressionante estadia na Grande Pirâmide. Aqui temos, de fato, um homem notável: um estudioso de mente aberta, um jornalista aventureiro e, acima de tudo, alguém que obtém discernimento espiritual da experiência direta.
Portanto, convido o leitor a tomar nota – e notar – enquanto lê este livro e considera os meios pelos quais também pode começar sua própria busca dos segredos da mente e do despertar do espírito, seja no Egito ou em qualquer outro lugar.
Timothy J. Smith
[Do prefácio da obra Egito Secreto, de Paul Brunton]